Para identificar o transtorno de ansiedade, o profissional especialista leva em conta os sintomas ansiosos, os contextos em que ocorrem esses sintomas de ansiedade e o prejuízo que que esses sintomas de ansiedade trazem à vida do paciente.
As conversas entre o paciente e o profissional, em que os sintomas são descritos em detalhes, são fundamentais para avaliar se a pessoa sofre de transtorno de sociedade e se precisa ou não de atenção especializada.
6 distúrbios mais comuns de ansiedade:
1) Fobia social ou transtorno de ansiedade social (TAS)
Também conhecido como medo excessivo e irracional de ser avaliado por outras pessoas em interações sociais, falando em público ou simplesmente estando cercado de gente. A sensação de ser observado ao comer em um restaurante ou ao usar um banheiro público pode ser suficiente para disparar sintomas ansiosos, como sudorese, taquicardia, “brancos” e, em casos graves, até um ataque de pânico.
O transtorno gera ansiedade antecipatória e esquiva: a pessoa sabe que, no dia a dia, irá deparar com as situações temidas, na escola, na faculdade, no trabalho.
Sofre por antecipação imaginando o constrangimento ou a humilhação de ser visto fragilizado e, por isso, passa a evitar a todo custo esses encontros, o que pode significar abrir mão da vida social e até de sair à rua.
As consequências a longo prazo são dramáticas. Em uma fobia social grave, inevitavelmente o paciente tem depressão associada, porque fica muito triste pelo isolamento social. E a pessoa que não sabe o que fazer pode buscar alívio bebendo, ou seja, o alcoolismo também é uma complicação do transtorno.
2)Fobia específica
Claustrofobia, aracnofobia, aerofobia. Talvez as fobias específicas sejam os transtornos de ansiedade mais presentes no imaginário popular. O medo crônico e paralisante de objetos ou situações é um problema real que acomete cerca de 15 % da população.
Existe uma classificação de fobias específicas. Ambiente natural, que envolve água, altura, escuridão. As situações de avião, de dirigir, de injeção, de sangue.
E as fobias de animais ( cachorro, cobra, barata, aranha entre outros).
As fobias chegam a causar ataques de pânico, ainda que o paciente saiba que, muitas vezes, seus temores são irracionais. A perspectiva de ter de enfrentar algum dos estímulos fóbicos (como são chamados os objetos ou situações temidas) é o bastante para disparar os sintomas ansiosos.
3) Transtorno do pânico (TP)
Não há ameaça alguma. Essa diferenciação é crucial para o diagnóstico do transtorno de pânico (TP).
Ataques isolados podem ocorrer em todos os transtornos de ansiedade em resposta a uma situação temida.
É na origem da crise ou na aparente inexistência dela que começa o diagnóstico. Em qualquer transtorno, vai haver alguma situação que provocou o medo, exceto no de pânico, em que é o ataque as situacional: vem do nada.
O transtorno de pânico é um dos mais prevalentes entre os distúrbios de ansiedade. As primeiras crises ocorrem sem aviso, inclusive em momentos de relaxamento, antes de dormir ou como um sobressalto durante o sono.
Não é de se surpreender que, acometidos por sintomas intensos como desorientação e dor no peito, muitos pensem estar morrendo. Os portadores de transtorno de pânico são os maiores frequentadores de hospitais. Já passaram por muitos atendimentos, acreditando que estão sofrendo ataques cardíacos, foram avaliados e nada foi encontrado.
A recorrência também é definidora, os ataques inesperados ocorrem mais de uma vez em intervalos de meses. Podem acontecer de forma inesperada ou ser desencadeados por alguma situação específica.
Cada vez que os sintomas começam, vem a hiper vigilância de tão atenta às alterações que percebe no organismo, a pessoa fica cada vez mais ansiosa. Ainda que não haja uma relação de causa e efeito entre a crise e as circunstâncias em que ela ocorreu, o paciente pode passar a evitar essas situações.
Uma explicação no campo da teoria cognitivo-comportamental é que a pessoa tem os sintomas e eles geram um desconforto tão grande diante de uma primeira situação (por exemplo, um ataque no supermercado) que ir ao mercado, que até então era um estímulo sem importância, passa a ser uma situação que produz medo e ansiedade.
Ansiedade X Ataques de pânico
Para que uma crise de ansiedade configure um ataque de pânico, ao menos quatro dos sintomas abaixo devem estar presentes.
- Palpitações e taquicardia
- Sudorese
- Falta de ar
- Desconforto torácico
- Náuseas
- Tonturas
- Calafrios
- Formigamento
- Despersonalização
- Medo de enlouquecer
- Medo de morrer
4) Transtornos de ansiedade generalizada (TAG),
Em 25% dos casos, o TAG está acompanhado de outras doenças psiquiátricas, sendo a depressão a mais comum. Dependendo das doenças relacionadas e da intensidade do transtorno, os sintomas do transtorno de ansiedade generalizada podem variar. Porém, os mais fáceis de reconhecer são os físicos, tais como:
- Fadiga;
- Tensão muscular;
- Palpitação;
- Suor excessivo;
- Dor de cabeça;
- Disfunção sexual;
- Disfunção gastrointestinal
No entanto, a doença fica mais evidente quando aparecem, ou são reconhecidos, os sintomas neurológicos:
- Perda de memória;
- Insônia;
- Dificuldade de concentração;
- Irritabilidade;
- Inquietação.
Entre os sintomas psíquicos, os aspectos essenciais são a preocupação constante e receios, como medo de ficar doente, de que algo negativo aconteça com seus familiares, de não conseguir cumprir com compromissos profissionais ou financeiros. Ao longo do transtorno, é comum a preocupação mudar de foco.
5)Stress pós-traumático ( TEPT)
A regra do TEPT é clara, trata-se de um distúrbio que se origina necessariamente a partir de um evento traumático.
Admite-se que o trauma seja a causa do TEPT, mas que a manifestação dependa da capacidade de resiliência do indivíduo. Quem, por razões biológicas, temperamentais ou q de história de vida, não consegue lidar dessa forma, mergulha em um mundo de medo e ansiedade. Como os sintomas do TEPT não desaparecem mesmo meses após o trauma, passa-se a evitar situações que possam desencadeá-los.
Uma característica que protege o indivíduo é o autodirecionamento. Se a pessoa planeja melhor as situações com que vai entrar em contato, tende a se proteger mais dos traumas. A revivência do evento traumático leva a ataques de pânico, fechando um ciclo de ansiedade. Frequentemente, quem sofre com TEPT se torna autodestrutivo ou agressivo sem motivo aparente.
A depressão é uma comorbidade importante, atingindo 80% dos pacientes. É comum que os indivíduos experimentem “brancos” ou pensamentos equivocados sobre o evento, incluindo culpar a si ou a outras pessoas pelo trauma. É o que ocorre com muitas vítimas de estupro na infância e na adolescência, por exemplo, que se responsabilizam por terem provocado o abusador.
Sintomas:
- Insônia
- Irritabilidade
- Hiper vigilância
- Pesadelos e flashbacks
- Episódios de pânico
6)Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
A mente de quem tem TOC é marcada por repetições: pensamentos desconfortáveis
de que não se consegue fugir, combatidos com comportamentos compulsivos para atenuar o sofrimento.
Os pensamentos obsessivos são intrusivos: chegam inesperadamente e não há como evitá-los. A pessoa lava a mão e vê que diminuiu o desconforto e tende a repetir, mantendo o que se chama de reforço negativo. Os conteúdos mais comuns das obsessões e compulsões entre indivíduos:
Obsessões por contaminação e compulsões por limpeza; por simetria e por repetição, Organização e contagem; Obsessões agressivas e sexuais; Obsessões pela ideia de ferir a si mesmo ou a terceiros. Compulsão por verificar se isso realmente ocorreu.
O mesmo paciente pode ter várias obsessões ou rituais compulsivos distintos. Na maior parte dos casos, a conexão entre a obsessão e a compulsão não parece lógica. Obsessões de agressão podem ser ligadas a compulsões religiosas, a pessoa começar a rezar ou a blasfemar, falar palavrões.
O que vai determinar se é doença é o grau de sofrimento e o quanto a pessoa vai passar seus dias envolvida pelos pensamentos e rituais. Ela pode adorar deixar a casa em ordem, refazer várias vezes e não ser um problema para ela e para quem convive.
O TOC causa prejuízos significativos à vida dos pacientes. As compulsões tornam-se paralisantes, não se consegue mais realizar as tarefas mais corriqueiras e indispensáveis.
Compulsões mais frequentes em pacientes com TOC:
- Verificação;
- Limpeza;
- Contagem;
- Confissão;
- Simetria
Ansiedade normal e ansiedade exagerada
A linha que separa a ansiedade normal da exagerada é muito tênue e varia de pessoa para pessoa. Tem quem lide muito bem com uma rotina agitada, enquanto que outros não podem nem pensar em ter preocupações.
A ansiedade se torna patológica quando começa a atrapalhar e a paralisar sua vida. Ou seja, é arbitrário. Quando isso acontece, pode ser sinal de transtorno. A probabilidade de morrer de problemas cardíacos pode ser até 4 vezes maior para quem tem algum desses transtornos.
Parece assustador, mas a boa notícia é que todos têm cura. Existe a urgência em que vivemos, a necessidade de controlar os próprios sentimentos e demonstrar felicidade o tempo todo. Isso faz com que demoremos a agir sobre a ansiedade.
Existe tratamento para a Ansiedade?
Sim. E na grande maioria das vezes é eficaz, se seguir à risca o tratamento. No caso da ansiedade, a terapia cognitivo-comportamental é um dos mais eficazes, especialmente se combinada com medicamentos antidepressivos, caso haja necessidade. Associados a exercícios físicos e meditação.
Apesar dos medicamentos ansiolíticos, o primeiro passo quando a ansiedade se inclina a um transtorno é recorrer à psicoterapia. Se o caso for mais grave, trabalha-se com um combo de TCC e remédios.
O problema de colocar tudo na conta dos fármacos é que eles não seriam capazes de tratar a ansiedade no longo prazo. Assim que o remédio deixa de ser tomado e os princípios ativos saem da sua corrente sanguínea, o efeito termina.
O papel terapêutico é modificar os padrões de pensamentos e comportamentos associados. Ou seja, o paciente tem que desaprender alguns hábitos mentais antigos e automáticos e aprender novas maneiras de lidar com situações que antes geravam grande ansiedade.
É preciso trabalhar as crenças centrais de quem, por exemplo, acredita que é fraco, suscetível a doenças ou que vai quebrar com qualquer crise financeira. Por meio de conversas, o paciente passa a ter uma visão mais racional da sua realidade.
Isso tudo de forma gradativa, mas bem mais duradoura que qualquer droga, porque muda o pensamento negativo que rege nosso funcionamento.
IMPORTANTE: Todo tratamento medicamentoso oferece riscos se não houver orientação médica.