Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo, uma em cada 10 apresentam os sintomas da doença crônica que afeta a saúde mental da população. São 20 milhões de brasileiros convivendo com o transtorno de ansiedade, uma condição que se agrava com o uso exagerado da tecnologia.
Ansiedade: como explicar os efeitos da tecnologia
A velocidade com que a informação viaja o mundo é algo muito recente, com o qual os seres humanos ainda não sabem lidar e muito menos aprenderam a filtrar. E a ansiedade de estar desconectado da internet e não saber o que acontece no mundo?
Sofremos porque não somos iguais aos modelos, influencers, blogueiras e youtubers que estão bombando na internet. Na comparação com essas pessoas, nós sempre saímos perdendo.
“Claro que nos compararmos com quem é bem-sucedido é maravilhoso. Infelizmente, não estamos preparados para viver com um grupo de comparação tão grande, e o resultado é que ficamos ansiosos e com baixa autoestima”, destaca o filósofo Perring.
O que ele quer dizer é que o ser humano sempre funciona na base da comparação. Ou seja, se todo mundo ao seu redor tiver o mesmo número de recursos, você não vai se sentir pior do que ninguém.
Mas, se, de repente, uma pessoa do seu lado ficar muito mais rica, bonita, feliz e bem-sucedida, você vai se sentir infeliz. É ou não é de enlouquecer?
Excesso ou falta de informação geram ansiedade
Hoje em dia, ficamos sabendo de todos os desastres naturais, ataques terroristas e acidentes de avião que acontecem ao redor do mundo, quase que instantaneamente, num volume de informação que quase não conseguimos processar e com isso nos sentimos vulneráveis.
E se não temos acesso rápido a essa informação também temos problema, pois nos sentimos incapazes. Se não sabemos opinar sobre a música top, sobre a moda da estação, o resultado da eleição, o desmatamento , o aquecimento global ou a próxima vacina ficamos ansiosos.
Os efeitos da ansiedade no nosso cérebro
Essas preocupações que geram ansiedade afetam o cérebro e o corpo e, muitas vezes, se não tratadas adequadamente, podem virar doença.
Basta pensar nas reações físicas que sentimos quando estamos muito ansiosos, como falta de ar, taquicardia, boca seca, tremedeira, sudorese. Sem falar na insônia, insegurança, irritabilidade, tristeza. São muitos os sintomas que podem surgir do nada.
Os sintomas da ansiedade são o diagnóstico da doença
O transtorno de ansiedade é um dos poucos problremas psicológicos em que o próprio sintoma é o diagnóstico. O cenário ansioso do Brasil está enraizado nas suas diferenças sociais.
Um país em que muitos não têm renda suficiente para terminar o mês, ou que trabalham muitas horas por dia, ou ainda, que vivem sob pressão de metas desrespeitosas no trabalho, se torna palco para incertezas e inseguranças emocionais.
e os sintomas da ansiedade acabam surgindo no dia-a-dia e precisam ser identificados para que sejam tratados de maneira adequada.
A Ansiedade pode ser uma proteção
A ansiedade pode ser uma coisa boa, já que coloca nosso corpo em alerta e isso nos protege dos perigos iminentes. Mas a ansiedade em excesso nos põe num poço de transtornos que vão desde o TOC ( transtorno obsessivo compulsivo ) até as fobias que parecem inexplicáveis de coisas que poderíamos amassar com uma só pisada.
Ansiedade e medo: qual a diferença?
Há muito em comum entre a ansiedade e o medo. Os dois são estados aversivos, causados por uma ameaça e que têm como objetivo proteger o organismo.
Não é à toa que o medo é um sentimento essencial para descrever a ansiedade. Ambos surgem no mesmo sistema do nosso corpo, o límbico, e estão localizados nas mesmas regiões do cérebro: a amígdala, a substância cinzenta periaquedutal e o septo-hipocampal.
As 3 regiões do cérebro são áreas que fazem parte do nosso mecanismo de defesa, que analisa o mundo à volta à procura de ameaças, registram os perigos e também armazenam novos riscos para o futuro.
Mas há também uma diferença bastante clara entre os dois. O medo é uma emoção engatilhada por algo muito específico e imediato – por exemplo: a visão de uma onça faminta. Lá está a ameaça, e é então iniciada uma reação de luta e fuga.
Já a ansiedade não é exatamente uma emoção primária. Enquanto o medo é uma disposição corporal momentânea, a ansiedade é um estado mental e corporal mais espalhado no tempo. Ela é causada por uma ameaça diluída: não a onça , mas sim a possibilidade de que um lugar tenha onças.
Não um assaltante com uma arma na cabeça no volante do carro , mas sim a possibilidade de que alguém possa assaltá-lo, ou que você um dia possa perder o emprego e ficar sem fonte de renda.
“Enquanto o medo torna nosso corpo apto para se defender ou fugir de uma situação de frente para nós, a ansiedade antecipa essa prontidão.”
Depressão e ansiedade
Se a depressão é uma reação a uma perda passada, a ansiedade é a reação a uma perda futura. Com ela, nós permanecemos preocupados, mas não sabemos por quê, não identificamos qual o gatilho, pois ele realmente não existe.
Ele poderá vir a acontecer. Ou não. E isso basta para que nós nos preparemos, para que fiquemos ansiosos. A Ansiedade é como o guarda de trânsito – sua fiscalização vai fazer o motorista perder tempo e recursos, mas também vai protegê-lo de riscos futuros.
Qualquer incerteza ou imprevisibilidade é gatilho de ansiedade. E, como a vida é cheia de incertezas, não é de admirar que tantas pessoas vivam ansiosas.
A ansiedade se espalha como epidemia
Dentre os transtornos mentais, os de ansiedade são os mais frequentes, segundo a Organização Mundial de Saúde. Só na região metropolitana de São Paulo, 39,9 % das pessoas já tiveram ao menos um quadro clínico de ansiedade, segundo um levantamento do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
A história da humanidade é a história da ansiedade.
Mas será que vivemos em tempos mais ansiosos do que a média da história humana?
É impossível afirmar que sim ou que não. Cada época teve grandes problemas que causaram ansiedade. O que dá para afirmar é que a ansiedade sempre foi um estímulo para resolver esses problemas.
Somos hoje expostos a muito mais estímulos que colocariam nossos ancestrais em estado aversivo. Ambientes fechados repletos de desconhecidos, veículos em alta velocidade, ruídos altos, procedimentos médicos que cortam nossas peles, reviram nossos órgãos internos, perfuram nossos ossos, e uma profusão de informações que fazem nossa intuição acreditar que o mundo é muito mais perigoso do que de fato é, ameaça terrorista, acidentes de avião, epidemias de gripe ( Covid-19 ) violência urbana, produtos tóxicos, preconceito.
O copo meio cheio e o copo meio vazio da ansiedade
Hoje, vivemos os tempos com as taxas mais baixas de homicídio, maior segurança alimentar e mais alta expectativa de vida de toda a nossa existência. Mas continuamos ansiosos.
A ansiedade é um botão vermelho, uma urgência para agir e fazer a diferença para que as coisas mudem. No conforto, ficamos parados, estáticos, sem motivação para transformar nossa vida.
A ansiedade nos dá o foco necessário para virar a mesa. Nos deixa espertos para buscar oportunidades novas. Afinal, a ansiedade não é causada apenas pelo risco de morrer de fome, de doença ou de assassinato.
As doenças geradas pela ansiedade
Viver com uma ansiedade crônica é terrível, principalmente se ela for tão grande que a pessoa não consiga interagir socialmente, trabalhar, sair de casa. Ela aumenta os níveis de hormônio do stress, faz subir a pressão sanguínea e tem impacto no sistema imunológico.
É por essa e por outras razões que a ansiedade está relacionada a problemas cardiovasculares, transtornos imunológicos, obesidade. Todo ansioso tem uma história de paralisia, constrangimento ou angústia parecida para contar.
E, para quem vive assim, parece impossível que a ansiedade tenha algum lado bom, além de antecipar temores com alguma chance de serem reais. Porém não adianta varrer a ansiedade para baixo do tapete. Ela estará lá te esperando.
Aceitar a própria ansiedade é uma das formas de tratar o transtorno
Quando a ansiedade começa a atrapalhar sua vida, é sinal de que você precisa procurar ajuda. Isso ocorre quando há um prejuízo importante em alguma ou em todas as áreas da vida, como o trabalho, a vida social, o lazer, a vida amorosa.
Se medo e ansiedade são aprendizados evolutivos que capacitam o ser humano para a sobrevivência e a autoproteção, os transtornos caracterizados por essas sensações provocam o efeito contrário.
O estado de alerta diante da vida transforma tudo o que vai acontecer em um desafio intransponível. Não é fácil explicar por que algumas pessoas adoecem de excesso de ansiedade, mas isso envolve fatores biológicos, psicológicos e de história de vida, além dos fatores temperamentais e ambientais.