Nos últimos anos, debater sobre questões emocionais nas empresas e em nossas vidas, tem deixado de ser um tabu. Coisa que a pandemia também escancarou. Quando o estigma é reduzido, os casos que antes eram reprimidos ou classificados de outras formas, tendem a emergir de forma mais evidente. Por isso é fundamental dimensionar a importância da saúde mental na vida das pessoas.
Síndrome de burnout: o que é?
O burnout é um transtorno psíquico com sintomas parecidos com os do estresse e da ansiedade, com uma diferença: eles têm relação com nossa vida profissional. O tema tem sido bastante debatido porque a Organização Mundial de Saúde o classificou agora como um fenômeno ocupacional, provocado pelo trabalho.
Síndrome de burnout é uma condição do ambiente de trabalho
Em janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout foi incluída pela OMS na 11a. Revisão da Classificação Internacional de Doenças, ou na CID-11, não como uma doença médica específica, como a depressão, ou uma condição de saúde mental.
A síndrome de burnout está agora enquadrada no capítulo “Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde” – ou seja, apanhado que engloba motivos pelos quais as pessoas entram em contato com serviços de saúde, mas que não são classificadas exatamente como doenças.
O esgotamento mental no trabalho pode levar à síndrome de burnout
IMPORTANTE: “A OMS deixa claro que a síndrome de burnout não deve ser aplicada para descrever experiências em outras áreas da vida, e que se refere especificamente a questões relacionadas ao contexto ocupacional”.
O burnout, portanto, não é uma doença nem um transtorno mental, mas é o resultado do esgotamento provocado pela sobrecarga de trabalho, de uma exposição contínua a situações de estresse no ambiente de atuação da pessoa.
Quando o estresse é positivo
O estresse é essencial em nossas vidas. É uma resposta adaptativa do organismo provocada por novidades, desafios ou ameaças. O estresse nos faz aumentar o desempenho. Só quando estamos estressados nos preparamos melhor. É o estresse que nos faz melhorar nossa performance.
Excesso de estresse pode causar a síndrome de burnout
Embora seja um mecanismo essencial para a manutenção da vida, o estresse em excesso e repetido pode se tornar patológico. E quando atinge o nível de exaustão pode levar à Síndrome de Burnout.
A síndrome de burnout já tem mais de meio século
A síndrome de burnout é uma doença que não nasceu agora. Na verdade, a síndrome de Burnout foi descrita pela primeira vez na década de 1970, quando um psicólogo americano chamado Herbert J. Freudenberger diagnosticou a si mesmo.
Após abrir uma clínica gratuita em Nova York para atender pacientes pobres, ele e os colegas faziam jornadas de 15 horas. Freudenberger percebeu que havia algo de errado quando todos começaram a ficar exaustos e apáticos. “Os esgotados têm dores de cabeça e de estômago, dificuldade para dormir e falta de ar” anotou ele em seu caderno. Em 1974, descreveu em um artigo pela primeira vez esse problema de saúde relacionado às condições de trabalho.
Saiba o que provoca a síndrome de burnout
A definição atual da síndrome de burnout aponta que ela ocorre quando as demandas do dia a dia, os estressores e nossas recompensas e propósitos estão desalinhados. Há três sintomas básicos:
1) Perda de energia ou exaustão física e mental.
2) Distanciamento emocional do trabalho, que é aquilo que ocorre quando, por exemplo, o chamam para um happy hour do trabalho e você não quer nem saber.
3) Queda da eficácia profissional.
Síndrome de burnout nas empresas
Classificada agora como uma doença ocupacional, um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”, a síndrome de burnout está, portanto, exclusivamente associada ao trabalho. Isso significa que, na prática, as empresas precisam estar atentas à síndrome – e podem ter implicações legais e trabalhistas caso não contem com programas que contemplem a saúde mental de seus funcionários e colaboradores.
Ambientes tóxicos levam à síndrome de burnout
Carga excessiva de trabalho, remuneração inadequada, além da alta complexidade e hostilidade nos relacionamentos estão descritas como condições que tornam tóxico o ambiente de trabalho e podem levar a um número maior de casos da síndrome de burnout, o que acarretará não só em perda de produtividade, como também provocar prejuízos financeiros para a empresa.
As manifestações da síndrome de burnout
As consequências da síndrome de burnout podem ser identificadas na Queda de produtividade, estafa que não passa nem com férias, comportamento cínico e distanciamento emocional.
Para diagnosticar o burnout, o especialista deve afastar transtornos de ansiedade (como ansiedade generalizada e pânico), de humor (depressão) e de adaptação (provocados pela dificuldade de se adaptar a uma nova realidade, seja por doença, desemprego ou morte de alguém).
Os números dos transtornos mentais no ambiente de trabalho
Uma Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz que analisou o impacto na saúde mental de trabalhadores essenciais, revelou que sintomas de ansiedade e depressão afetaram 47,3% deles. Mais da metade da população sofre de ansiedade e depressão, ao mesmo tempo.
O burnout também vem crescendo. Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamat), cerca de 20 mil brasileiros pedem afastamento médico por ano por doenças mentais relacionadas ao trabalho. É comum as pessoas confundirem depressão e ansiedade com burnout.
As falhas na corporação que levam ao adoecimento no trabalho
Demandas em excesso no trabalho, falta de suporte de gerentes ou superiores hierárquicos, ausência de recompensas e falta de políticas claras de saúde que levem ao reconhecimento dos sintomas da síndrome de burnout são falhas importantes nos processos da empresa que podem afetar a saúde mental dos funcionários.
Com o avanço nas pesquisas sobre a Síndrome de Burnout, ela passa a ser um fenômeno relacionado ao trabalho e não ao trabalhador.
na prática, isso evidencia a responsabilidade das empresas sobre a saúde de seus colaboradores.
O que as empresas devem fazer para diminuir os casos da síndrome de burnout
“Quando pensamos em síndrome de burnout, estamos obrigatoriamente falando de uma síndrome desencadeada ou agravada pelo ambiente de trabalho e pelos acontecimentos na vida profissional. Portanto, cabe às empresas criarem estratégias de prevenção, mapeamento e acolhimento para o cuidado com a saúde mental de seus colaboradores”.
A única forma de as organizações cuidarem para que esta doença não aconteça com seus funcionários, podendo trazer implicações legais e financeiras, é estar atento a saúde mental das equipes.
Dicas de atividades positivas nas empresas
É importante para as empresas oferecer programas de wellness, saúde, atividade física e terapia, claro. Mas isso só funciona quando está alinhado com a estratégia. Esse é o papel da empresa, ela deve partilhar dessa cultura, desse mindset de que saúde mental não é fraqueza, de que podemos falar sobre isso e que existem estratégias para a promoção de saúde.
A companhia deve ainda esclarecer que parte da resolução do problema pode ser profissional e para isso, pode-se, por exemplo, diminuir a carga de trabalho ou pressão sobre o colaborador.
Diminuir a competição melhora o ambiente de trabalho
Ambientes extremamente competitivos e de muita pressão por resultados são locais mais propícios a provocar burnout nos colaboradores. Mas a síndrome pode acontecer em qualquer outro local.
Precisamos lembrar que o burnout pode aparecer em cenários que o profissional não se sente preparado para a ocupação que exerce ou onde lideranças despreparadas criam um cenário de estresse e tensão intensos.
Outras situações podem impactar também a saúde mental do colaborador, como viagens de trabalho excessivos, reestruturações nas empresas, crises econômicas etc.
O clima do ambiente de trabalho é essencial não apenas para prevenir o surgimento do burnout, mas também para possibilitar que eventuais casos sejam identificados e encaminhados precocemente para a área de Recursos Humanos e ou de Saúde Ocupacional.